domingo, 16 de janeiro de 2011

A Flecha


A FLECHA:
 
            Cabia aos Clãs Guerreiro da América Nativa zelar pela segurança do nosso Povo. O espírito do Clã dos Guerreiros é representado pela flecha. A Flecha é direita, certeira, e torna-se mortal quando é apontada para matar. Os Bravos Guerreiros só adquiriam o direito de serem chamados por esse nome depois de passarem por muitos testes de liderança e agilidade. A coragem era o ingrediente principal na formação de um Guerreiro, porém deveria ser temperada pela verdade, pelo senso comum, pela destreza física, integridade e ligação com os níveis espirituais antes que se  merecesse o direito de pertencer ao Clã dos Guerreiros.
            Uma vez concluídos os Ritos de Passagem, para os rapazes de 13 anos, iniciava-se o lento e árduo processo de aprendizagem para tornar-se um Homem. As lições eram aprendidas com o pai, um tio, com outro membro do Clã do Guerreiro ou com um Chefe. Estas lições consistiam em aprender a caçar, a rastrear, a participar de um ataque, e a colaborar na Contagem de Golpes. Havia ainda a Busca de Visão, a Dança do Sol, e a liderança de um grupo de caça. Durante a dança noturna as atividades eram reencenadas para o resto da Tribo, celebrando assim cada uma destas conquistas.
            Cada jovem que honrava seu Clã com atos de bravura era coberto de honrarias. Cada passo que conduzia ao caminho do Clã do Guerreiro era propositadamente difícil, e bastante extenuante, já que a liderança da Tribo, e por vezes da própria Nação, recairia nos ombros da próxima geração do Clã dos Guerreiros. A habilidade de um homem em fabricar flechas pretendia demonstrar a exata medida de seu cuidado com a liderança do Povo. O melhor dos melhores acabaria sendo escolhido como Chefe, após ter as suas capacidades comprovadas. Nesta ocasião, ele já teria, pelo menos, cinqüenta anos de idade. Um Guerreiro jamais seria considerado um Ancião, nem sábio o suficiente para tornar-se o Chefe principal da Tribo, enquanto sua vida não estivesse plena de experiências. O indivíduo só era considerado adulto e maduro o suficiente para tornar-se Chefe aos cinqüenta anos de idade.
            De acordo com a Tradição Sioux, logo após a puberdade o jovem tornava-se um Soldado-Cão da Tribo, aprendendo a servir e a ser leal para com  o seu povo, enquanto agia como sentinela e protetor do acampamento. Depois que estas lições estivessem bem assimiladas, alguns desses jovens eram chamados a participar da Sociedade do Coração Forte, considerado um agrupamento de elite. A Sociedade era constituída pelos membros que haviam se distinguido na batalha e que já possuíam muitas Penas de golpe. O Clã dos Guerreiros sentia-se muito honrado quando algum de seus membros era escolhido para entrar na Sociedade.
            Alguns jovens casavam-se cedo e não conseguiam entrar para o agrupamento do Soldado-Cão porque tinham que sustentar a família. Estes homens passavam a ser tratados com um pouco de escárnio e eram chamados de “Os Toma-Conta das Barracas”. Muitos jovens queriam fazer parte do Abrigo-do-Soldado-Cão mas não eram admitidos. Todos os membros do grupo viviam num mesmo Abrigo, no qual as mulheres não tinham permissão de entrar. As mães dos Bravos costumavam preparar as suas refeições. Mas quando levavam a comida de seu filho, só podiam colocar uma das mãos na tenda, no máximo até o pulso.
            Os melhores caçadores e rastreadores provinham do Clã dos Guerreiros. Nem sempre estes homens se tornavam Chefes, mas podiam chegar a ocupar lugares de honra no Conselho dos Homens, que incluía todos os líderes dos diversos Clãs. Alguns dos Clãs Guerreiros da América Nativa eram chamados de “Clã da Raposa”, o Totem protetor da família. Outros eram chamados de “Clã do Coiote”, já que sempre conseguiam enganar o inimigo, sabendo como pegá-lo de surpresa. Cada Nação escolhia um Totem diferente para o seu Clã dos Guerreiros. O Totem possuía os atributos de  algum animal da região, cujas características inspiravam os Guerreiros e os Bravos daquela Nação. Uma vez completado o treinamento de Soldado-Cão, os Guerreiros ficavam livres para casar-se, tornando-se membros muito respeitados por todos em função do serviço que prestavam a seu Povo.
            Dependendo da sua situação, os membros do Clã dos Guerreiros podiam pertencer também a outros Clãs. A partir dos sete anos a criança já demonstrava os seus dons e talentos. A esta altura os avós já haviam merecido um descanso do trabalho cotidiano mais pesado. Eles se incumbiam de observar os talentos naturais que cada criança possuía para oferecer à Tribo. Os dons naturais determinavam a que professores cada criança deveria ser encaminhada, após realizar o seu Rito de Passagem. As meninas aprendiam suas funções junto as outras mulheres, e os meninos aprendiam, junto aos homens dos diversos Clãs, as tarefas para as quais demonstrassem maior aptidão. Desta maneira, cada criança tinha os melhores modelos possíveis, podendo desenvolver seus próprios dons e talentos para continuar honrando a sua Tribo.
            Depois de ser honrado com o título de Chefe, um homem jamais deveria levantar a voz contra uma mulher ou uma criança. Esta regra era comum a todos os Clãs dos Guerreiros. Estes Bravos asseguravam a proteção das futuras gerações e sabiam honrar os tesouros vivos simbolizados pelas mulheres, como Mães e Provedoras da Tribo. O sentido de bravura e lealdade destes Guerreiros mantinha-os acima das discussões tolas. No entanto, eles eram, muitas vezes, submetidos a verdadeiras provas, por causa das brigas entre os membros da Tribo que ainda não haviam desenvolvido estas mesmas qualidades. Um verdadeiro Chefe tinha que ser equilibrado e compreensivo, colocando os interesses do seu Povo acima de seus próprios sentimentos. O caráter do Guerreiro era forjado por anos de silêncio, durante os quais ele assimilava a experiência dos Anciões da Tribo. Cada Guerreiro deveria passar por este aprendizado até reconhecer o valor da Flecha em sua essência mais verdadeira.
            A Flecha era rápida para proteger e rápida para agir, nos momentos de necessidade. Um Chefe sempre sabia prever todas as possibilidades, era certeiro e corajoso, mirava para alcançar o melhor e o mais alto, e se sentia totalmente responsável pelas decisões que tomasse. O Arco da Beleza expressava a alegria de sua missão de liderança. Mesmo em momentos de grande tristeza a capacidade de se curvar sem quebrar-se é sugerida através do Arco da Beleza, o Arco da força interior – Aquele que faz voar a Flecha. Dizia-se que o Arco da Beleza era feito do mais puro ouro, manifestando a luz dourada do amor do Avô Sol, e era incrustado de pérolas, que representavam a essência do carinho da Avó Lua. Um dos princípios básicos do Clã dos Guerreiros era o de manter o  equilíbrio interno entre o masculino e o feminino dentro de cada lutador. Este equilíbrio simbolizava a síntese entre a vontade de se curvar – como o Arco da Beleza – e de disparar para o alto a Flecha da Verdade, para que o resto do Mundo pudesse travar conhecimento com ela.
            Para que um Guerreiro chegasse a incorporar a sua Magia Pessoal, deveria ter sonhado com ela, ou ter obtido uma Visão em alguma de suas Buscas de Visão. Caso não conseguisse alcançar o lado feminino e receptivo de sua natureza através de jejuns, da Busca de Visão, ou então da Dança do Sol, o Guerreiro deveria comprar uma cópia da Sacola de Talismãs de um outro Guerreiro, ou de algum Xamã seu conhecido. Este Guerreiro, porém, teria poucas chances de se sobressair e tornar-se um Chefe, devido à falta deste equilíbrio básico em sua formação. A falta deste lado feminino e receptivo não era considerada uma desonra, porém tornava o Caminho do Guerreiro mais difícil de ser seguido. O Guerreiro que vivia esta situação tinha que lutar frequentemente contra a sua natureza masculina dominante para tornar-se digno de receber a ajuda de seus Guias de Cura, ou de seus Ancestrais.
            A incapacidade de receber os seus próprios Sonhos de Magia constituía uma frustração para o Guerreiro, e costumava criar-lhe problemas junto ao Conselho dos Homens. Considerava-se que os membros mais jovens do Clã dos Guerreiros que fossem incapazes de desenvolver a sua sensibilidade poderiam tornar-se agressivos demais e acabar com a boa sorte da Tribo por causa de sua impetuosidade. Era importante preservar a ordem, dentro do equilíbrio natural criado pelos Chefes, para que o grupo se mantivesse estável. A perda de prestígio era a pior coisa que poderia acontecer a um Bravo do Clã dos Guerreiros. No caso de um Crime de honra, um Guerreiro podia até mesmo ser expulso de sua Tribo. Quando a infração era muito séria, a Nação inteira nunca mais receberia aquele indivíduo junto às suas fogueiras. Entre o Clã dos Guerreiros, em toda a América Nativa, imperava, acima de tudo, a Fraternidade.
            A cerimônia dos Irmãos de Sangue da América Nativa, simboliza a mais pura ligação de homem para homem, baseada na união de coração, corpo e alma. A cerimônia cria um clima propício para que o espírito do Guerreiro se equilibre e harmonize. Muita coisa já ficou perdida no Mundo da Separação, e a Energia da Unidade precisa ser recuperada. Dá-se um pequeno corte nas mãos dos Guerreiros, e os dois homens fazem um juramento: permitir que seus sangues circulem como se fossem um só. A base da Cerimônia dos Irmãos de Sangue é jurar eterna lealdade a um amigo, agora transformado em Irmão. Nos dias de hoje este tipo de compromisso tornou-se bastante raro.
            Lembre-se que o caminho da Flecha é reto e estreito, e que o alvo é sempre o coração. Dentro do coração década Guerreiro reside o espírito de compaixão de um Chefe e o sentido da liderança voltada para o Bem do Povo. A felicidade dos filhos da Mãe Terra depende da união de todos os Guerreiros do Arco-Íris do Mundo. É necessário reforçar a Irmandade dos Guerreiros para que se possa completar a formação do Quinto Mundo da Paz. Para que esta paz se manifeste, precisamos utilizar o ensinamento da Flecha, ou seja, Caminhar somente em Verdade. A Verdade passará a construir a nossa principal arma assim como a nossa proteção.
 
 
(Retirado do livro: As cartas do caminho sagrado, de Jamie Sams)

Postado no Grupo de Estudos Boiadeiro Rei

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