Academia de misticismo
Aberta em São Paulo a primeira faculdade de teologia umbandista do país
Terreiros, som de atabaques, despachos em encruzilhadas... Quando se fala da umbanda, essas são as idéias que vêm à mente da maioria das pessoas. Mas um grupo de praticantes e especialistas resolveu dar ao mais popular rito sincrético do país um caráter acadêmico. Eles criaram, em São Paulo, a Faculdade de Teologia Umbandista (FTU), primeira escola do gênero no país. No currículo, um conjunto de disciplinas bastante variado, que vai desde as básicas como português, sociologia e filolsofia, até outras bem específicas – e estranhas para quem não é iniciado –, como botânica umbandista, biologia espiritual e medicina umbandista. Há até uma cadeira chamada administração templária, que visa ensinar aos alunos como montar e dirigir um terreiro. Quem completar o curso, de quatro anos, vai sair com graduação de bacharel em teologia umbandista.
A criação da FTU foi autorizada pelo Ministério da Educação.
Leia mais em Mais Informações
Desde 1999, a teologia é uma carreira reconhecida pelo órgão como curso de nível superior, mas até agora, as instituições credenciadas a funcionar tinham currículo voltado apenas ao cristianismo, seja católico ou protestante. A FTU já está com inscrições abertas para seu vestibular, que selecionará a primeira turma de 50 alunos. As aulas começam em março e por enquanto serão ministradas apenas no período noturno.
A faculdade conta com um corpo docente composto por mais de 20 professores, alguns com mestrado ou doutorado em diversas áreas. O médico neurologista Roger Soares, 35 anos, mais conhecido como mestre Araobatan, faz parte da equipe. “Durante muito tempo, a umbanda foi vista como cultura da periferia. Queremos mostrar que ela, como religião, é um sistema de conhecimento integral e, portanto, pode se harmonizar com os preceitos científicos e ser transmitida academicamente”, sustenta o médico, que concordou em atender a reportagem de ECLÉSIA com alguma reserva – ele não se permitiu fotografar.
‘Preconceitos’ – Para o professor, que vai lecionar a disciplina sistemas religiosos, a criação da FTU é passo importante para “acabar com os preconceitos” contra a umbanda e seus praticantes: “Trata-se de um dos credos mais democráticos que existem. Está inserida em todas as camadas da sociedade.” A estrutura física da escola não deixa a desejar. Além das salas de aula, conta também com sala de leitura, anfiteatro, cantina, biblioteca com mais de cinco mil livros, estúdio de televisão com ilha de edição e área livre para convivência nos intervalos. O lado espiritual também não foi esquecido – são dois santuários no templo público, além do Santuário do Templo Iniciático. A maior parte dos recursos ainda vem de doações, mas o compromisso em prol da causa parece vir em primeiro lugar. Pelo menos no começo, os professores serão voluntários. Aos poucos, a idéia é de que boa parte dos gastos seja custeada pela mensalidade de R$ 350,00.
Diferente do que pensam muitos, a umbanda não é uma crença de origem africana. Ela surgiu no Rio de Janeiro, no final do século 19, a partir da libertação dos escravos. Sincrética, mistura elementos do candomblé e do catolicismo com religiosidade indígena, cultos afro-islâmicos, espiritismo e até filosofias orientais (ver quadro). A FTU, ligada à Ordem Iniciática do Cruzeiro do Sul, uma das várias em que se organiza a religião, afirma em seu site que há “enorme demanda” em conhecer as crenças umbandistas. Outra proposta do curso é formar e qualificar obreiros para os trabalhos religiosos.
De acordo com o professor Roger, o objetivo da instituição vai mais além. “Existe muita ignorância em relação à nossa religião”, afirma. “Queremos fazer crescer a umbanda e corrigir distorções”. Já estão nos planos da FTU a criação de cursos de menor duração e até de especialização. “Temos conseguido grande apoio da comunidade, algo essencial para alcançar as reformas estruturais que buscamos”, encerra Roger.
Uma fé sincrética
Tida por seus seguidores como uma “grande religião universal”, a umbanda tem no sincretismo seu traço característico. É um conjunto de crenças que incorporam elementos de várias tradições religiosas, aliando, por exemplo, textos sagrados como a Bíblia, preceitos do espiritismo, ritos de matriz indígena e superstições populares. A umbanda, surgida no fim do século 19, teve sua base em credos trazidos ao Brasil pelos escravos africanos, como o candomblé e a cabula. Discriminada durante muito tempo – seus praticantes eram até perseguidos pela polícia –, hoje a umbanda tem relativamente poucos seguidores confessos. O último Censo encontrou cerca de 400 mil pessoas que admitiram professar a umbanda como religião.
Os umbandistas acreditam que só é possível relacionar-se com o ser supremo através das coisas criadas, como a terra e o mar, ou por intermédio de entidades espirituais conhecidas como guias ou orixás. O contato com esse meio espiritual é feito por sacerdotes e médiuns – conhecidos popularmente como pais-de-santo e mães-de-santo –, encarregados de transmitir o conhecimento do sagrado e suas virtudes. Acredita-se que o fiel pode incorporar espíritos de entidades conhecidas como caboclos, pretos-velhos e pomba-giras.
Entre outras doutrinas, a umbanda crê na possibilidade de comunicação entre vivos e mortos e na reencarnação. Por meio de oferendas e práticas que visam elevar o indivíduo a uma pureza doutrinária – como a caridade –, os umbandistas ensinam que é possível melhorar a vida do homem, harmonizando-o com a natureza e religando-o com o criador. A plataforma mágica e as ligações com o ocultismo, bem como os fenômenos de suposta incorporação de espíritos, leva boa parte dos evangélicos a associar a umbanda com práticas malignas e a considerar suas divindades como demônios.
Marcos StefanoJornalista da revista Eclésia
A criação da FTU foi autorizada pelo Ministério da Educação.
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Desde 1999, a teologia é uma carreira reconhecida pelo órgão como curso de nível superior, mas até agora, as instituições credenciadas a funcionar tinham currículo voltado apenas ao cristianismo, seja católico ou protestante. A FTU já está com inscrições abertas para seu vestibular, que selecionará a primeira turma de 50 alunos. As aulas começam em março e por enquanto serão ministradas apenas no período noturno.
A faculdade conta com um corpo docente composto por mais de 20 professores, alguns com mestrado ou doutorado em diversas áreas. O médico neurologista Roger Soares, 35 anos, mais conhecido como mestre Araobatan, faz parte da equipe. “Durante muito tempo, a umbanda foi vista como cultura da periferia. Queremos mostrar que ela, como religião, é um sistema de conhecimento integral e, portanto, pode se harmonizar com os preceitos científicos e ser transmitida academicamente”, sustenta o médico, que concordou em atender a reportagem de ECLÉSIA com alguma reserva – ele não se permitiu fotografar.
‘Preconceitos’ – Para o professor, que vai lecionar a disciplina sistemas religiosos, a criação da FTU é passo importante para “acabar com os preconceitos” contra a umbanda e seus praticantes: “Trata-se de um dos credos mais democráticos que existem. Está inserida em todas as camadas da sociedade.” A estrutura física da escola não deixa a desejar. Além das salas de aula, conta também com sala de leitura, anfiteatro, cantina, biblioteca com mais de cinco mil livros, estúdio de televisão com ilha de edição e área livre para convivência nos intervalos. O lado espiritual também não foi esquecido – são dois santuários no templo público, além do Santuário do Templo Iniciático. A maior parte dos recursos ainda vem de doações, mas o compromisso em prol da causa parece vir em primeiro lugar. Pelo menos no começo, os professores serão voluntários. Aos poucos, a idéia é de que boa parte dos gastos seja custeada pela mensalidade de R$ 350,00.
Diferente do que pensam muitos, a umbanda não é uma crença de origem africana. Ela surgiu no Rio de Janeiro, no final do século 19, a partir da libertação dos escravos. Sincrética, mistura elementos do candomblé e do catolicismo com religiosidade indígena, cultos afro-islâmicos, espiritismo e até filosofias orientais (ver quadro). A FTU, ligada à Ordem Iniciática do Cruzeiro do Sul, uma das várias em que se organiza a religião, afirma em seu site que há “enorme demanda” em conhecer as crenças umbandistas. Outra proposta do curso é formar e qualificar obreiros para os trabalhos religiosos.
De acordo com o professor Roger, o objetivo da instituição vai mais além. “Existe muita ignorância em relação à nossa religião”, afirma. “Queremos fazer crescer a umbanda e corrigir distorções”. Já estão nos planos da FTU a criação de cursos de menor duração e até de especialização. “Temos conseguido grande apoio da comunidade, algo essencial para alcançar as reformas estruturais que buscamos”, encerra Roger.
Uma fé sincrética
Tida por seus seguidores como uma “grande religião universal”, a umbanda tem no sincretismo seu traço característico. É um conjunto de crenças que incorporam elementos de várias tradições religiosas, aliando, por exemplo, textos sagrados como a Bíblia, preceitos do espiritismo, ritos de matriz indígena e superstições populares. A umbanda, surgida no fim do século 19, teve sua base em credos trazidos ao Brasil pelos escravos africanos, como o candomblé e a cabula. Discriminada durante muito tempo – seus praticantes eram até perseguidos pela polícia –, hoje a umbanda tem relativamente poucos seguidores confessos. O último Censo encontrou cerca de 400 mil pessoas que admitiram professar a umbanda como religião.
Os umbandistas acreditam que só é possível relacionar-se com o ser supremo através das coisas criadas, como a terra e o mar, ou por intermédio de entidades espirituais conhecidas como guias ou orixás. O contato com esse meio espiritual é feito por sacerdotes e médiuns – conhecidos popularmente como pais-de-santo e mães-de-santo –, encarregados de transmitir o conhecimento do sagrado e suas virtudes. Acredita-se que o fiel pode incorporar espíritos de entidades conhecidas como caboclos, pretos-velhos e pomba-giras.
Entre outras doutrinas, a umbanda crê na possibilidade de comunicação entre vivos e mortos e na reencarnação. Por meio de oferendas e práticas que visam elevar o indivíduo a uma pureza doutrinária – como a caridade –, os umbandistas ensinam que é possível melhorar a vida do homem, harmonizando-o com a natureza e religando-o com o criador. A plataforma mágica e as ligações com o ocultismo, bem como os fenômenos de suposta incorporação de espíritos, leva boa parte dos evangélicos a associar a umbanda com práticas malignas e a considerar suas divindades como demônios.
Marcos StefanoJornalista da revista Eclésia
Postado no Grupo de Estudos Boiadeiro Rei
Amei a ideia de vcs é pena q nao posso fazeressa faculdade moro muito longe de vcs aki em Belém do Para se fosse mais perto ira fazer com toda certeza uma axe bem grande para esse grupo.
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