O Bori é uma importante etapa na vida de um filho no Candomblé.
Deve ser seguido tradicionalmente como nos Candomblés puros.
Da fusão da palavra bó, que em ioruba significa oferenda, com ori, que quer dizer cabeça, surge o termo bori, que literalmente traduzido significa “ Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode – se afirmar que o bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu bori é ( Iésè órìsà ).
Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido suas próprias potencialidades. Odu é o caminho pelo qual se chega à plena realização de orí, portanto não se pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Orunmilá – Ifá, deve ser grande em seu próprio caminho, pois, embora se escolha o ori antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.
Exu, por exemplo, nos mostra a encruzilhada, ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e escolher a trajetória mais adequada é tarefa que cabe a cada ori, por isso o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é por meio do bori que tudo é adquirido.
Os mais antigos souberam que Ajalá é o orixáfunfun responsável pela criação de ori. Dessa forma, ensinaram – nos que Oxalá sempre deve ser evocado na cerimônia de bori. Yemanja é a mãe da individualidade e por essa razão está diretamente relacionada a orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.
A SIMBOLOGIA DOS ELEMENTOS
A própria cabeça é síntese de caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabem, muitas vezes, se configurando como sinônimos) começam no ori, que ao mesmo tempo apota para as quatro direções.
OJUORI – A TESTA
ICOCO ORI – A NUCA
OPA OTUM – O LADO DIREITO
OPA OSSI – O LADO ESQUERDO
Da mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, leste e oeste; o centro é a referencia, logo toda pessoa deve se colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os pontos cardeais: os caminhos a escolher e seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
Na África, ori é considerado um deus, alias, o primeiro que deve ser cultuado, mas é também, junto com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito fundamental para compreender os ritos relacionados a vida, como axexê (asesé). Nota – se a importância desses elementos, sobretudo o ori, pelos oriquis com que são evocados:
O bori prepara a cabeça para que o orixá possa manifestar – se plenamente. Há um provérbio nagô que diz: Orí buru kó si orisá. É o bori que torna a cabeça ruim não tem orixá. É o bori que torna a cabeça boa. Entre as oferendas que são feitas ao ori algumas merecem menção especial. É o caso da galinha – d’angola, chamada nos candomblés de etum ou konkém, que é o maior símbolo de individuação e representa a própria iniciação. A etun é adoxu (adosú), ou seja, é feita nos mistérios do orixá. Ela já nasce com exu, por isso relaciona – se com começo e fim, com a vida e a morte, por isso está no bori e no axexê.
O peixe representa as potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade o seu próprio caminho. As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, os produtos da flor germinação, simbolizam fartura e riqueza.
O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o primeiro alimento oferecido a ori; é a boa semente que se planta e espera – se que dê bons frutos.
Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranqüilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao ori de cada um eleger prioridades e, uma vez cultuado como se deve, proporciona-las aos seus filhos.
Postado no Grupo de Estudos Boiadeiro Rei
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