Axééé… Saudade. Trabalho. Estudo. Descobertas. Giras, engiras e muitas surpresas. Assim passaram esses dias… Quanto tempo, sentimentos, pensamentos e tentativas. Metas, provas e paciência. Tudo ainda pulsando, acontecendo e abrilhantando nosso Terreiro.
Agradeço o carinho de todos que se mostraram tão presente em nosso blog e vamo que vamo, temosmuuuuita coisa que fazer pela Umbanda, por nós, pelo outro e por todos.
Dessa forma e em meio à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira – Semana e/ou Dia da Consciência Negra – não posso deixar de me manifestar afirmando a importância dessa comemoração e de alertar sobre a necessidade de mudanças, principalmente na conjunção educacional.
Como muitos sabem, estou na fase final da pós-graduação “História da África e do negro no Brasil”, um estudo fascinante e marcante que me permitiu chegar mais perto da minha história, da minha ancestralidade e da minha religião. Propiciou inúmeros saberes, me conduziu a fortes reflexões e lapidou meu olhar em várias questões.
Uma destas questões foi o olhar sobre o racismo e/ou preconceito. Ocorrências que ainda provocam grandes cicatrizes.
Sei que as afirmativas ‘não sou racista’ ou ‘não sou preconceituoso’ fazem parte do discurso da maioria das pessoas. No entanto percebo um desajuste considerável, pois o racismo e o preconceito ainda percorrem as entranhas de nossa sociedade manifestando-se em todos os lugares, nas ruas, no trabalho, dentro de casa, nas escolas etc. Concluo assim que existem aqueles que só discursam, mas são; aqueles que afirmam, porém não percebem que são; e o mais triste: ainda existem aqueles que, independentes de discurso, da atualidade e do erro, são racistas e preconceituosos violentando qualquer direito humano. Situações degradantes que afetam emocionalmente a pessoa atingida e muitas vezes, por toda uma vida. Circunstâncias que atinge toda uma sociedade, uma nação, um estado.
Exagero?
Não! Não é exagero!
Kabengele Munanga, doutor em Ciências Sociais (Antropologia Social) e professor titular da Universidade de São Paulo, diz que “Não precisamos ser profetas para compreender que o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações preconceituosas entre alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado. O que explica o coeficiente de repetência e evasão escolar altamente elevado do aluno negro, comparativamente ao do aluno branco”.
Nesse contexto, fale lembrar que o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicou uma pesquisa intitulada ‘A Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira’ baseando-se nos dados do Censo demográfico de 2010 e constatou que a população negra é mais numerosa que a branca (em 2010, 97 milhões de pessoas se declaram negras enquanto 91 milhões de pessoas se declararam brancas), portanto, com as crianças negras fora das escolas o que será do nosso futuro? Do futuro de nosso país?
É… A responsabilidade é grande, pois a reação do racismo e do preconceito não atinge somente uma pessoa ou um grupo, mas a todos.
Na tentativa de encontrar uma solução, creio que a educação é a grande “arma” para eliminar de vez com tais desajustes. Seja ela compartilhada nas escolas, nas famílias, nos ambientes sociais, nas redes de comunicação e principalmente, dentro de nós.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, ao prefaciar o livro “Superando o Racismo na Escola” organizado por Kabengele Munanga, discorre:
Racismo e ignorância caminham sempre de mãos dadas. Os estereótipos e as ideias pré-concebidas vicejam se está ausente a informação, se falta o diálogo aberto, arejado, transparente.
Não há preconceito racial que resista à luz do conhecimento e do estudo objetivo. Neste, como em tantos outros assuntos, o saber é o melhor remédio.
Não era por acaso que o nazi-facismo queimava livros.
(…) É preciso, ainda, que a educação tenha qualidade, que sirva para abrir os espíritos, não para fechá-los, que respeite e promova o respeito às diferenças culturais, que ajude a fortalecer nos corações e mentes de todos os brasileiros o ideal da igualdade de oportunidades.
A linguagem é uma das manifestações mais próprias de uma cultura.
Longe de ser apenas um veículo de comunicação objetiva, ela dá testemunho das experiências acumuladas por um povo, de sua memória coletiva, seus valores. A linguagem não é só denotação, é também conotação. Nos meandros das palavras, das formas usuais de expressão, até mesmo nas figuras de linguagem, frequentemente alojam-se, insidiosos, o preconceito e a atitude discriminatória. Há palavras que fazem sofrer, porque se transformaram em códigos do ódio e da intolerância.
(…) A superação do racismo ainda presente em nossa sociedade é um imperativo. É uma necessidade moral e uma tarefa política de primeira grandeza. E a educação é um dos terrenos decisivos para que sejamos vitoriosos nesse esforço.
Podemos pensar que é um grande desafio, acabar com o racismo e o preconceito, no entanto, penso que não é questão de “desafio”, é uma questão muito simples que necessita “apenas” que nos reconheçamos iguais e irmãos perante o Sagrado, a ciência, a história e a humanidade.
“A mais marcante das singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenitores de todas as populações humanas do planeta, o que faz do continente africano o berço único da espécie humana. Os dados científicos que corroboram tanto as análises do DNA mitocondrial quanto os achados paleoantropológicos, não cessam de apontar nesse sentido” - confirma o prof. Dr. Carlos Moore Wedderburn no livro “Novas bases para o ensino da História da África no Brasil”.
Enfim, concordo com a frase mencionada pela importante matriarca do Candomblé Makota Valdina do Terreiro Tanuri Junsara: “Não quero ser tolerado! QUERO SER RESPEITADO!”, e creio, todos também concordam, portanto, que cada um faça sua parte na promoção da Paz, da Igualdade e do Respeito. Que cada um se esforce na educação e na responsabilidade para com as crianças e com o futuro de nossa nação. Que cada um ensine mais com atos do que com palavras, ou melhor, que os discursos sejam coerentes com as ações, atitudes e sentimentos.
Como inspiração, vejam o vídeo e reflitam… O futuro está nas mãos das crianças de hoje, as quais, estão à mercê da nossa capacidade de educar.
Axé a todos!
Escrito por Monica Caraccio
Fonte: Minha Umbanda
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