Uma manhã, no
lado de lá...
Nunca tive a consciência
que poderia ser tão aconchegante uma casa sem teto, sem paredes, sem portas e
sem janelas.
Verdade...hoje posso dizer
que um grande, ou melhor, meu maior e mais sincero amigo, me recebeu em sua
casa, com os braços abertos e satisfeito com a nossa
visita.
Parecia um conto de
fadas...aqueles em que, nossos pensamentos transportam nosso corpo para outro
mundo, outra época, outro cenário, outra realidade. Estávamos em um pequeno
grupo de 11 pessoas, famintos nos aprendizados que teríamos naquele dia, e ao
mesmo tempo, um tanto “inseguros”, pois não sabíamos o que iria se passar
naquela manhã, mas talvez a nossa “insegurança” humana, fez-nos perder na
SEGURANÇA que o dono da casa nos transmitia, e abrindo os braços para a nossa
passagem em seu portal de entrada, disse o proprietário, seu João Caveira ao nos
receber:
_ “Sejam bem vindos a
minha casa, eu sempre vou até vocês, hoje vêm até
mim”
Pois bem amigos, fomos ao
Cemitério, como ordem de Seu João Caveira, em uma determinada sessão em nossa
Tenda. Ele convidou alguns médiuns, contando com as mães responsáveis, para que
nos transmitisse alguns ensinamentos sobre a VIDA E A MORTE, e nessa manhã
fomos, todos os escolhidos, seguindo as ordens do falangeiro dos Caveiras, Seu
João Caveira, que nos afirmou que os ensinamentos começariam a partir do portão
das salas de velório.
Ao chegarmos no cemitério,
fomos até a entrada indicada, certos de que iríamos presenciar várias cenas
dolorosas de velório, ou seja, o corpo inerte no meio do salão, e os familiares
tristes com a perda do ente querido, assim como todos os dias acontecem nos
cemitérios. Porém nessa manhã tudo foi diferente.
Quando nos foi permitido
entrar, tivemos uma grande surpresa, todas as salas de velório estavam vazias,
não existiam corpos e nem familiares sofrendo, estava tudo diferente. No lugar
do ritual do velório e a presença de pessoas tristes, só havia funcionários
fazendo a limpeza do local. E com essa cena, ficamos sem reação, esperar ou não
o próximo velório??? Mas foi quando o dono da casa, Seu João Caveira se
aproximou do grupo e disse:
_”Vieram em busca da
morte? Mas a morte é imprevisível, e não marca horário para a sua chegada, na
minha casa, vocês não encontraram a morte, e sim a vida... Sejam bem vindos,
sejam bem vindos ao meu Campo Grande, fiquem a vontade e entrem por
favor.”
Com essa recepção tão
calorosa, adentramos ao seu Campo, e assim seguimos seus passos, quietos e
atentos a todos os seus gestos.
Andando por entre as covas,
Ele nos levou até um local, onde havia coroas de flores frescas, por sinal, eram
muitas coroas e vasos, tudo indicava que o enterro tinha acabado de acontecer, e
com todo o carinho, Ele se sentou ao lado da cova, observou ao redor, com um
olhar de admiração, respeito e carinho, e prosseguiu
dizendo:
_”Isso é feio? Quando
para vocês, irmãos, é o fim, para nós é o começo...” e apontando para a cova
fresca completou: _ Neste momento o nosso trabalho começa!!! Quando o corpo,
para vocês, está morto e não terá mais utilidades, para nós é o começo de tudo,
pois o espírito nunca irá apodrecer, independente das atitudes que teve na
terra, o que apodrece é você!!!...e encerrou dizendo: _”...os nossos espíritos
nunca vão cheirar mal, no Meu Mundo, ninguém apodrece ou cria vermes comendo
o
nosso corpo, ao
contrário de vocês, seres mortais. Vocês apodrecem, esses espíritos
não.”
Nossa, quanta verdade, os
seres humanos se perdem em suas próprias vaidades, enquanto descriminamos os
cemitérios, por julga-lo sujo, não observamos que nós mesmos é que somos a
sujeira, e quando nossos corpos físicos deixarem a terra, a nossa essência, o
nosso corpo sutil que é a nossa alma, nunca irá de decompor, somente o nosso
corpo que faz parte da Terra.
Prosseguindo, parecia que o
cemitério não era mais visto como de costume, passamos a olhar aquelas veredas
com maior respeito, sabendo que a cada passo que damos naquele “mundo” tão
diferente e ao mesmo tempo tão igual ao nosso, tudo se transformava em
ensinamento, e seguindo os passos do anfitrião, chegamos a outro ponto do
cemitério, um local que no nosso mundo, é considerado, “barato”...sim, estávamos
no lugar mais simples do cemitério, aquele em que pessoas com pouco ou nenhum
poder aquisitivo são enterradas.
Foi solicitado pelo Seu
João Caveira que ficássemos atentos a vibração energética do lugar, que apesar
de ser um cemitério, estava tranqüilo, não foi notável em nosso campo energético
mudanças muito bruscas, e seguindo os ensinamentos, chegamos ao Ossário desse
mesmo lugar, ou seja o local onde após determinado tempo após o enterro, os
ossos dos indivíduos são retirados das covas e depositados nessas “pequenas
covas.” E Assim prossegui Seu João Caveira:
_”O corpo do ser
humano, é formado por inúmeros órgãos, veias, músculos, tecidos, porém o osso é
a única parte do ser humano que não apodrece...bem assim se faz com os vossos
sentimentos. Dentre tantos sentimentos de emoção que existi no ser humano
mortal, apenas um que não de desfaz, apenas um que não apodrece dentro do ser
humano, os demais sentimentos, se desfazem como o corpo humano. Observe suas
emoções e descubra qual é o sentimento que em você, não apodrece com o passar do
tempo, pois os ossos ficam intactos décadas e
décadas.”
Como era misteriosa aquela
manhã, as pessoas do grupo mal se falavam entre elas, não conseguimos
identificar o tipo de sentimento que estávamos sentindo após tantas descobertas
entre a VIDA E A MORTE.
Continuamos a nossa
caminhada, e foi-nos avisado que passaríamos por mais dois pólos de energias,
totalmente diferentes, seriam nossos últimos ensinamentos naquela manhã, e
seguindo, chegamos no Cruzeiro das Almas.
Ao chegar, seu João Caveira
se ajoelhou em frente a cruz, e no local, havia uma mulher, aparentemente, sem
juízos psíquicos normais, falando sozinha e atarefada com algum tipo de trabalho
no Cruzeiro, e assim se aproximou Dele, que somente retribuiu com um olhar
penetrante, e a mulher, sem dizer mais nada, se retirou do local em silêncio,
como se ela já conhecesse aquele olhar, e sabia mais do que nós o que queria
dizer.
Disse seu João Caveira ao
se levantar:
_”Ao chegar nesse lugar,
você deve todo o respeito, como se estivesse chegando perante Jesus Cristo e o
visse de braços abertos a você. Esse é o coração do cemitério. O lugar que mais
deve ser respeitado, pois aqui tudo acontecesse. Prepare a sua alma, feche seus
olhos, e como num piscar de olhos abra que terá uma rápida visão de uma pequena
parte do que se passa no Cruzeiro das Almas, no coração do
cemitério.”
Assim o grupo se preparou,
com o auxílio da Mães presentes, fecharam os olhos, e ao abrir, uns sim, outros
não, tiveram a visão, de Espíritos em busca de auxílio, cada um preso em seu
próprio passado.
Um dos irmãos
desencarnados, ajoelhado nos pés da cruz, com a cabeça baixa, sem direção,
suplicou ajuda ao nosso grupo, e uma das mães presentes, conduziu as preces
necessárias enquanto o irmão desencarnado em desespero, grudou nas pernas dela,
implorando ajuda, e nesse momento seu João se aproximou do irmão solitário, e
disse com afeto:
“_Não sou o Jesus que
você procura, mas estou de braços abertos para te ajudar”...e assim protegeu
o irmão desencarnado em sua capa e os dois desapareceram por alguns
instantes.
Enquanto isso, permanecemos de pé, ao redor do Cruzeiro das Almas, presenciando cenas e gritos de outros espíritos presentes, mas na certeza de que um dia, mais cedo ou mais tarde, todos serão beneficiados pela misericórdia de nosso grande Criador.
Após o encaminhamento, Seu
João se aproximou de nós, para então entrarmos para o ultimo pólo de energia
daquela manhã. O local, era bem próximo do Cruzeiro das Almas, e possuía jazigos
mais requintados, comparando com as covas simples dos outros pólos já visitados
por nós.
Ao chegarmos na entrada
desse mais novo pólo energético, completou o anfitrião, parando a caminhada e
apontando para a entrada:
_”Daqui para a frente,
vocês adentraram em outro mundo. Fiquem vigilantes com todas as visões,
sentimentos e emoções. Permaneçam em suas energias, e todo o cuidado é pouco de
agora em diante”
E, seguindo as orientações,
entramos no pólo energético mais denso. Tudo era mais intenso do que os outros.
Os jazigos eram cobertos por névoas acinzentadas, os pássaros já não cantavam
por lá, vultos, vozes, choros e chamados eram presentes o tempo todo, porém, não
sentimos que aqueles espíritos estavam em busca de socorro, assim como no
Cruzeiro das Almas.
Os espíritos que por lá
permanecem, vivem presos em seus conceitos, não estão pedindo nossas ajudas ou
preces, pelo contrário, nota-se que permanecem pelo local, andando pelos jazigos
com naturalidade, como se fosse suas residências, alguns fazem morada fixas por
milhares de anos.
Ao andar pelas veredas,
seguimos conforme a energia nos levava, e ao mesmo tempo, ouvimos uma voz
chamar: “_MÃE”!!!
A voz era nítida, como se
um de nossos irmãos presentes tivesse falado, seguimos em busca da voz, e nos
deparamos com um túmulo, no qual havia um pôster enorme com a foto de um homem
jovem. O olhar demonstrava vida!
Se não estivéssemos em
frente ao túmulo daquele homem, não diríamos que eles estava vivo no mundo dos
mortos.
Fizemos nossa prece ao
irmão, que por motivos que não nos foi permitido saber, chamava continuamente
por sua mãe e seguimos nossa missão.
A essa altura, infelizmente
o nosso grupo já não mantia a mesma vibração do início, e por esse motivo nosso
companheiro nos disse:
“_Foi ensinado o que vocês poderiam aprender, por hoje é só”.
“_Foi ensinado o que vocês poderiam aprender, por hoje é só”.
Em meu coração, brotava um
sentimento que não sei classificar, mas era uma mistura de alegria,
contentamento, satisfação e gratidão, pois fomos escolhidos por um guardião, que
vem nos auxiliar na linha da Umbanda, e que abriu os portões de seu Campo Santo
para nos mostrar a realidade da vida e da morte.
Nossa quanta honra, hoje
posso me considerar uma pessoa privilegiada, por ter um amigo tão
sincero.
E caminhando lentamente aos
portões de saída, nosso companheiro encerrou nossos ensinamentos
dizendo:
“_
É no cemitério que nos despimos de todos os orgulhos e nos consideramos
verdadeiramente idênticos aos nossos
semelhantes”
João
Caveira
através da médiun Bárbara
D´Iansã
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