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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O CAMINHO DAS BOIADAS – Histórias de Boiadeiros


A peonagem, quase toda nas selas, ouvia pálida de cansaço e desinteressada a cautela que o capataz pedia:
— Ocêis enlera as talha de cem trem de cada vez, na ponte, mas na hora que eu adetreminar. Não vai fazendo trem da idéia docêis não, proquê aqui ainda tem gerência. Não aperta não! B se num acauso depois a boiada estoura — o que eu não aquerdito proquê o tempo dos fantasmas já arribou pra longe — ocêis vêm pra culatra pra mode eles correr só pra diante, assim poupa u’a marcha. Os peão da chavelha vai tintiando de banda mas sem deixar a trenheira revirar nos pés pra donde saiu.
Moreno acabava de arrear o cavalo, juntando-se aos outros, mil vezes ouviu aquilo, cruzando, ao montar, com o olhar ruim do comissário.
A ronda, sob a chuva já bem fina, revirava para o caminho alagado a manada birrenta. A peonagem calada se punha automaticamente em suas posições, enquanto o berrante se afinava baixo, de ensaio, para o arranque de cruza-rio. Aos gritos roucos e desanimados, os peões ralhavam com o gado que custava a virar para o rumo. O tropel provocado, liderado pelas brabezas, refugava á toa, velhaco, do barro que espirrava.
Moreno imponente, berrante pronto, aguardava a voz do comissário. O grito sonoro da partida resvalou além ponteiro. O berrante gemendo deu arranque na boiada. O trinado melancólico do guampo, por um instante, despertou as emoções adormecidas nos peões extenuados. A boiada arrancou.
Lá atrás, um lenço colorido de cigano se requebrava em adeus no ar, amparando o choro convulso do berrante que ia morrer ali se entregando.
O chuvisqueiro babava esparso, quase a nenhum, enquanto a boiada, sem sossego, lá ia tremendo nervosa, o couro arrepiado, à moda de espantar mosquito.
O berrante repicando estudado chamava os peões para a frente. O rebanho atingia a estrada que, lá em baixo, se estreitando, emendava-se com a ponte.
O capataz atento, ao aviso do guampo, fazia esbarrar lenta a boiada, embolando-a para a travessia. As pilastras enormes da velha Afonso Pena se escancaravam ao tropel goiano na ânsia de vomitá-lo em Minas’.
O enxurro atenuado descia ponte adentro, igualando-se com o rio.
A fiscalização displicente aguardava pelo terceiro da entrada, talão nas mãos, o imposto que sempre meava com o governo.
O gado, mais largura, esbarrado para a travessia, aos tombos e arranques, caminhava afogado sob os urros doParanaíba.
O vento rasteiro começava a se elevar de novo. O berrante, firme, prendia, bem tocado, o avanço do rebanho.
O gado comprimido, retesado, se submetia inseguro ao acerco dos homens.
A peonagem, precisa, iniciava a manobra da divisão das talhas.
vento, subindo, farfalhou o copado das árvores. Uma chuva súbita se despencou de lá. O berrante desesperado recrudesceu o choro. O vento, cabra-cega, atingiu a manada. O berreiro intenso da peonagem, enlouquecendo a boiada. Sacudiu-se, violento, outra vez, o copado do arvoredo. Descarga repentina. Um berro sôfrego espantado. O tempo do clarão de um relâmpago. Tudo o que tinha vida, quedo. Um berro frenético reboa lancinante. Ponta de talha vacila para a esquerda. A peonagem se arremete. A corpulência molhada se comprime. Volta. Num só tempo, do ponteiro à culatra, arrancam para a direita. Tentativa de esbarre. Inútil. Assola o pânico. Cabeças baixas. Estoura a boiada. Os ponteiros recuam. A tropa da direita abre caminho. A culatra rápida passa à esquerda. A peonagem se arreda para longe a descargas de revólver. A retaguarda do tropel, virada já nos pés, arranca para trás, enquanto a tropa adestrada, firme, dispara paralela à massa sinuosa, perdendo terreno à arrancada. Cavalos esbarrados saltam loucos na ânsia de rebater cortando o turbilhão. O estampido contínuo, semelhante ao da enchente, esgaça num picadão sem fim o pau-baixo de beira-rio. O manga–larga espirituoso do capataz cospe-o longe a uma rodada. A gritaria dos homens, perdendo para o estouro, se avolumava mas refeita sobre o carretão compressor que prossegue vertiginoso. Estruge no planalto o ribombo dos res-sonos do pesadelo da natureza. Os primeiros bois pran-cheiam destripando nos chifres lascados os bofes dos que tropeçam neles, rodando. Galga o espigão que lhe refreia maneiro a disparada, dobrando já a cabeça-baixa da descida. O monstro cambaleia. O caos sonoro se indefine de vez na velocidade da descida. Olhos, a cascos, espirrando das órbitras triturados no estirão. Língua de bois mortos, palmo vomitadas, arrastam-se com bofes cem braças no amassador. Caudas levantadas, serpeando, serpeando, galgando no mesmo lugar; milhares de répteis boteando os céus. Orelhas hirtas ensurdecidas em desabalada pro fim do mundo. Potência enorme; flagelo de bárbaros em dois mil anos rasgando o ventre prenhe da terra, vazando olhos-d’água espertinhos que começam a chorar de novo. O chão se revolve em lama. Duzentas braças de arame farpado, cerca com quatro fios, cavalga légua e meia o dorso monstruoso da besta enfurecida. E o estouro ribomba longe no turbilhão de lama. Lascas de paus rachados baleiam à distância a peitaria larga dos cavalos. Os corpos quase um só, vermelhos de barro, do focinho à cauda, igualam um rancho velho que lá na frente os esbarra. Curva imensa, revirada sem razão; topa outra cerca atirando pelos céus postes de aroeira, rasgando a peitaria ampla nas felpas do arame frágil. Aberração teratológica, cada pata um tornado, arrastando formidável o chapadão. Mais uma rodada tremenda: cavalo e cavaleiro atirados a dez metros de distância, e o Evaristo vomitando sangue. Peão estacando brusco — cavalo sentando-se nas pernas traseiras ao escorregão do refreio —dando a urina ao Manuel — cura boa pra rodada ou qualquer incômodo de tombo. A maioria dos peões — pés fora dos estribos, os outros só com as pontas — esperam na correria suas vezes de rodar. Surge um córrego. Longe da passagem. A boiada se embola, junta-se mais, e um mar de aspas aglutinado reverbera batucando ritmos do fim do mundo. Visões apocalípticas; pescoços quebrados, corpo sobre eles. Os primeiros rasgam caminho represando o córrego grosso, e uma passagem chã que em três anos os carros-de-boi fariam, abre-se ante os homens. Os tombos da tropa frouxa sucedem-se já sem fim. Outro obstáculo avança célere: valo profundo, a esperança da comitiva. Vai o tropel sinuoso destruindo pelo mundo. Visão cinemascópica; estereofonía fabulosa, bois atropelando bois, embaralhado infernal e o valo virgem engole meia talha. O dorso vertiginoso se precipita sobre a ponte feita de corpos pela dianteira, aplanando barranco com barranco. Pernas quebradas tentando se levantar, agonizando, morrendo, e o estrupidar da cascaria vazando por cima. A tropa enqueixada, aos saltos e refugos, ensanguentando os cascos no montão de carne prossegue resoluta no estirão da boiada. Revolven do-se gigantesca a massa desenfreada se enchafurda arrasando u’a cabeceira. O brejal espalhado amaina o estampido de cascaria destruidora. A peonagem se arremete mais perto, avolumando-se o tiroteio. O cerco vai-se fechando. O monstro acuado expele tentáculos pra toda banda. Espirram pra cá e pra lá socas desnorteadas, esti-lhaçando-se o dorso imenso em partidas acéfalas. O tropel ensoado, cambaleando, já no trote cabeçudo de fim de estouro, se subdivide enfraquecendo-se, se perdendo sem rumo, desguaritado pela mata circundante. A tropa já confiante corta az nada os avanços das talhas livres. O ti-roteiro cessa. As pinholas e relhos chamuscam lapeando a manada indócil, enquanto os tentáculos do monstro vão–se reabsorvendo outra vez na origem. A tropelia prossegue pesada. Aos laços ágeis e precisos dos peões estacam bruscos os bois velhacos. A tropa suada prende — ancas para a cara da rês — a ponta retesada da amarra nas chinchas dos arreios. Bois urrando, a três cambalhotas, se entregam à peia certeira que o peão lhes passou. Homens em disparada emparelhados com reses renitentes pra voltar, deitados nas selas, pelas caudas lhe dão o tombo da revirada. A boiada começa a se juntar, aos atropelos, rodeando. Peões voltam das capoeiras mais distantes desistindo das arribadas, sob a gritaria infernal da ajuda no rodeio do grosso da talha. As blasfêmias recrudescem em contraponto à pancadaria, enquanto a brutalidade dos homens abate-se animalesca à vingança do estouro. Os olhos esgazeados da manada espavorida, há pouco invencível, piscam submissos, defendendo-se das chicotadas. O berrante implorando soluçava pelos ermos. O capataz esfarrapado — braço na tipóia — mandou dois peões levarem o Evaristo num bangüê para o pouso de beira-rio. Peões machucados, cambaleando nas selas — menos gritos — rondavam a boiada pela força do hábito. O tropel desabafado, lambendo os ferimentos, aguardava nervoso as decisões da comitiva. Moreno desolado, sobre o cavalo que batia frouxo, gemia pesaroso o guampo confortador. A culatra-manca, sã de repente à força do estouro, se deitava escornada — boca aberta, gemendo.
O comissário pálido gritou de novo e a manada moveu-se rápida. Marcha quase inteira de caminhada sobre a batida do estouro. No trajeto do desastre, o capataz abatido, com a ajuda de dois peões, lá ia enchendo os embornais com o couro das marcas dos bois sacrificados. Lombos de reses mortas eram arrancados, a golpe de faca, para o sustento da comitiva.
Os estragos se revelavam deprimindo o desolado patrão e a peonagem.
A boiada refugando, enlameando-se mais e mais, caminhava sem vontade seguindo de longe o ponteiro. A lama grossa revolvida segurava-lhes as patas, às vezes até a barriga, na batida que ainda agorinha era senguê.
O dia úmido, enchuvarado, lá ia grimpando.
O rebanho irrequieto reduzia mais e mais a força dos homens e dos cavalos.
tronqneira chegou enquanto, os olhos cansados dos homens, com laivos de esperança, acompanhavam a recontagem. O Ponteiro gritou ao comissário:
— Do estouro pra cá, mil e trezentas cabeças. O capataz derreado;
— Mil e trezentas cabeças, confere. Vinte e um mortos no estirão, com três de perna quebrada; cento e dez dearribada.
A praça amojou de novo.
Os peões se designaram nos quartos da ronda, alquebrados, cambaleando, enquanto da ciganada, lá longe, olhando curiosa, a Candeia comentava:
— Voltou pra trás a corja de trem à toa. Nem o serviço deles, os coisas não sabem fazer…
E virando-se para Maria que também olhava, olhos brilhando, continuou:
— É com esses cachaceiro e raparigueiro dos infernos que ocê arrumo rolo…
No rancho, a janta pesada era engolida sôfrega, e os homens mal humorados, se insultando, de qualquer geito tombaram de cansaço.
A ronda dormindo nas selas — Moreno sendo substituído — guardava por rotina o tropel desafogado.
O ronco surdo do rio embalava o descanso doentio de boiada e peonagem.
A noite calma e úmida se sacudia ao ressonar vigoroso do arrancho.
Moreno estirado em uns baixeiros, ainda com as mãos no cinto de apertar a calça de couro, como quem ia sair, cochilando sem querer, ouviu seu nome repetido. O cansaço mórbido; venceu-se a custo e, assustado, pôs-se de pé num salto.
— Moreno… Moreno… Ouvia outra vez.
Mão no trinta-e-oito, saiu do rancho e negaceando esbarrou em Maria. A cigana envergonhada — aventuresca —-arrependendo-se da ousadia, curiosa, entrou falando-lhe:
—Que coisa mais sem seca foi o estouro da trenheira. Nóis viu daqui quando o trem dobrou acolá afora… Eu fiquei com cuidado mode ocê. .. um soluço montou nos meus peito até o prazo da volta sua…
O peão continuava calado, ouvindo.
A menina vacilando, sem jeito, continuava:
— .. .E eu vim te trazer outro adeus e ver se não te aconteceu algum trem, Moreno…
O Ponteiro sem vontade, num gesto de aborrecimento, emendou devagar:
— Eu já estou acostumado, e é pra mode esse serviço que eu dou a minha vida. E não tem chuva braba nem estouro que murgiieia isso da minha idéia.
A meia-cigana querendo encompridar a conversa, sem compreender jamais a beleza de uma crença — criança pura sem nenhuma convicção — curiosa simplesmente, entrou outra vez:
— Há de ser mesmo perigoso essas lida docêis tudo e é pra ser bom vaquejar nesses galope de parelha com ote-beiro estourado, que nem dia de hoje…
E sem parar prosseguia tagarela:
— E essa trenheira que os outros chamam de arribada, qual é o que vai fazer o pega?
Moreno displicente lá ia desinteressado ouvindo a ingenuidade leviana da menina, que falava naquilo como se fosse mutirão ou pagode, o desanimado, apenas respondeu–lhe presunçoso:
— É pra ser eu o arribador proquê outro caboclo, nem melhor nem igual, tem na comitiva, nem nesses mundo de meu Deus nasceu até agora.
Maria chocada, refazendo-se voltava:
— .. . E que trem bonito é a modinha do berrão. Ah! eu tinha vontade de saber soprar êle.. .
Moreno impaciente, aborrecido, cortou-a brusco:
— O que ocê fala chama berrante!
O peão com a mão nos seus cabelos, ambos calados, alisava a nuca da menina que se ia arrepiando; brilhavam os olhos.
O vento — cobra doida — se enroscava arfando uma lobeira carregada. As frutas polpudas balançando. O vento atacando.
Fonte: Histórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962
O berrante gemendo deu arranque na boiada. O trinado melancólico do guampo...

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“A Umbanda não é responsável pelos absurdos praticados em seu nome, assim como Jesus Cristo não é responsável pelos absurdos que foram e que são praticados em Seu nome e em nome de seu Evangelho.”


SIGNIFICADOS QUANTO AO FORMATO DA VELA



 
Cones ou Triangulares: equilíbrio, elevação.
Quadradas: estabilidade, matéria.
Estrela: espiritual, carma.
Pirâmide: realizações matérias.
Cilíndricas: servem para tudo.
Animais: para o seu animal protetor.
Lua: para acentuar sua energia intuitiva.
Gnomo: para seu elemental da terra.
Cone ou Triangulares: simbolizam o equilíbrio. Tem três planos: físico, emocional e espiritual.
Velas Cônicas: são voltadas para cima e significam o desejo de elevação do homem, sua comunicação com o cosmos.
Velas Quadradas: Simbolizam estabilidade na matéria. Seus lados iguais representam os quatro elementos: Terra, Água, Fogo, Ar.
Velas em Formato de Estrela de Cinco Pontas: É o símbolo do homem preso na matéria. Representa o carma.
Velas Redondas: Simbolizam mudança. E a energia mais pura do astral que só a mente superior alcança.