De um modo geral, a iniciação no Jeje é mais complicada do que a
iniciação da Nação Ketu, a começar pelo tempo de reclusão dos neófitos
que no passado durava até um ano. Hoje, devido ao ritmo de nossas vidas,
este tempo caiu para seis meses. Três meses a vodunsi fica dentro do
Hundeme (quarto de santo) e os outros três meses fora dele, mas ainda na
roça. Durante seu período de iniciação a Vodunsi passará por várias
etapas, entre as quais pode-se citar Sakpokàn ou Sarakpokàn, Vivauê, Kán, Duká, Zò, Sanjebé, Grá (ou Grã), etc. Dentre estes os de maior destaque o Sakpokàn e o Grá.
A iniciação no Jeje Mahi sempre contece com formação de “barcos” ou
“ahamas”, pois pela tradição nunca se recolhe uma única pessoa e nem
barcos com números pares de componentes, levando ao entendimento de que
sempre que houver iniciação deve-se ter no mínimo três Vodunsis em
processo, na roça. Em geral cada sacerdote ou sacerdotisa Jeje Mahi,
durante seu comando, não recolhem muitos barcos; a quantidade
controlável de filhos de santo é muito importante, pois há um ditado que
diz “é melhor ter poucos filhos bons a muitos ruins”. Na Casa das
Minas também não é diferente.
A iniciação da Vodunsi começa com a filha “bolando” (caindo) aos pés
da arvore consagrada a seu Vodun (atinsá), e ali ela permanecerá
desacordada durante sete dias e sete noites. Dizem que já houve casos de
vodunsis consagradas a voduns aquáticos que ficaram esse período na
água. A ordem das vodunsis no barco se dá pela ordem conforme elas
vão ”bolando” nos atinsás, assim teremos:
- A primeira será Dofona (o) ( Dòfònun)
- A segunda será Dofonotinha (o) (Dòfònuntín)
- A terceira será Fomo (Fòmò ou Yòmò)
- A quarta será Fomotinha (o) (Fòmòtín)
- A quinta será Gamo (Gàmò)
- A sexta será Gamotinha (o) (Gàmòtín)
- A sétima será Vimo (Vimun)
- E ainda pode-se seguir vimotinho, dimu, dimutinho, etc.
Durante o tempo que a Vodunsi permanecer debaixo do atinsá de seu
Vodun, será cuidada pelos Ogãs e Ekedjis. Neste período, a mãe de santo
(ou pai) é proibida de ir ver a filha. Isso por que a(o) zeladora(o)
pode sentir pena da Vodunsi e de certa forma pode querer ajudá-la, afim
de aliviá-la de seu estado. Acabando os sete dias, a vodunsi ainda
desfalecida será levada pelos ogans até o zelador, no Hundeme, para que
este inicie a feitura. O momento em que a vodunsi acorda do
desfalecimento é considerado como um renascimento, após passar pela
morte ritual e acordar numa nova vida, agora como Vodunsi, um
compromisso que deverá carregar consigo por toda sua vida. A partir daí a
vodunsi passará por processos de limpezas, descarregos, banhos de
ervas, ebós, e durante uma semana deverá descansar até o dia do Sakpokàn ou Sarakpokàn.
O Sakpokàn é uma cerimônia que acontece sete dias após o inicio dos
rituais de feitura, quartorze dias após o “bolar”, na qual a vodunsi
dança manifestada com seu Vodun. A dança é desajeitada e desordenada. O
Sakpokàn também representa a despedida da Vodunsi de seus familiares que
forem assistir ao ritual, que só verão a vodunsi novamente meses
depois, no “dia do nome”. No dia do Sakpokàn a Vodunsi será raspada e
catulada. Das etapas de iniciação que a nova Vodunsi deve passar, a mais
intrigante e misteriosa é o Grá.
O Grá
O Grá é uma divindade ou entidade violenta e agressiva que se
manifesta na Vodunsi apenas na sua iniciação, durante três dias, e
próximo ao “dia do nome”. O principal objetivo do Grá é matar o(a)
zelador (a) que deverá permanecer escondido nos aposentos da casa
durante os três dias em que o Grá estiver manifestado. O Grá é
acompanhado pelos Ogans, Ekedis e algumas Vodunsis antigas que farão com
que ele realize algumas penitências, fazendo-o cansar. Há um número
certo de pessoas que poderão acompanhar o Grá que durante estes três
dias ficará solto pelo pátio da roça comendo tudo que encontrar como
folhas de árvores e frutos caídos, motivos estes que exigem que a roça
seja grande e com bastante árvores. As pessoas que acompanham o Grá,
assim como ele mesmo, carregam um porrete com o qual ele tenta agredir
as pessoas e realiza sua penitência, que tem como objetivo levar todo
mal e toda energia negativa da Vodunsi, e também o objetivo principal de
cansar o Grá para que ele não cause tanto transtorno. Durante os dias
de penitência, os acompanhantes entoam certas cantigas específicas. Após
os três dias procurando o(a) zelador(a), o Grá tem o encontro tão
esperado, que acontecerá no Agbasá (salão de dança). Ao som de paó e
adahun, o Grá entra pela porta principal do Agbasá e se deparara com
o(a) zelador(a), que estará sentado(a) em uma cadeira esperando por ele,
partindo pra cima do mesmo para matá-lo. Neste instante todo cuidado é
pouco, pois o Grá pode ferir o(a) zelador(a). Quando o Grá adentra o
Agbasá, os Ogans correm para tirar-lhe o porrete que ele luta para não
entregar. É um momento de extase. Nesse instante os tambores tocam com
mais força e o(a) zelador(a), então nervoso e sem poder sair da cadeira,
entoa uma cantiga e a Vodunsi cai desfalecida no chão e logo em seguida
é pega pelo Vodun. É um alivio total e o ritual do Grá chegou ao fim. A
quem diga que o Grá é um Erê malvado, outros dizem que é o Exu do
Vodun, outros ainda dizem que é o lado negativo do Vodun ou mesmo da
própria Vodunsi, um lado animalesco e primitivo seu, que está no seu
inconsciente, que manifestou-se em seu renascimento e que foi mandado
embora para sempre. O Grá despeja pra fora toda raiva e o ódio da
Vodunsi. Como se depois do Grá não houvesse mais ódio, raiva, rancor
dentro da Vodunsi, somente o que é bom e benéfico. Significa que a
Vodunsi nunca mais sentirá fome, nunca mais vai dormir no relento, nunca
mais irá confrontar ou agredirá seu(a) zelador(a), fisicamente ou com
palavras, pois o Grá levou isso com ele. O ritual do Grá envolve muitas
simbologias e interpretações que pelas leis do Jeje não poderei citá-las
aqui.
O Dia do Nome
O Dia do Nome é um dia muito especial, com cerimônia pública (Zandró)
no Jeje Mahi. O Vodum manifestar-se-á em sua Vodunsi e vai dançar na
sala. Antigamente, uma única pessoa era escolhida para tomar o nome
particular (Hún ìn) do Vodun de todas no “barco”, sendo considerado(a)
padrinho ou madrinha do “barco”. Hoje geralmente são escolhidos mais de
uma pessoa para esta tarefa. Após este dia, a iniciante agora sim é uma
Vodunsi.
As vodunsis sempre usam seus nomes religiosos, determinado por sua
posição no barco e seu vodum, assim poderemos ter, por exemplo, Dofona
Ongorensi (feita de Gbesén), Dofonotinha Sogbosi (feita de Sògbò), Fomo
Togbosi (feita de Aziri Togbosi), Fomutinha Òsúnsi (feita de Osún), Gamo
Lokosi (feita de Loko), e assim por diante. Se a Vodunsi atingir um
grau sacerdotal apenas acrescentará a frente de seu nome, o cargo, desta
forma: Mègitó Dofona Ongorensi, Doné Dofonotinha Sogbosi, Gaiaku Gamo
Lokosi.
Fonte:http://ocandomble.wordpress.com/2011/05/30/a-iniciacao-no-jeje-mahi/
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